sábado, 30 de novembro de 2013

Sobre o ser e o viver

(...)    
      A vida se resumia a mostrar para as pessoas as suas qualidades. Muitas concretas, outras falsas talvez, ou então mascaradas, pintadas para parecerem reais. No entanto, no fundo ele próprio sabia que tudo o que demonstrava era para não perder aquela posição conquistada com tanto esforço, estudo e dedicação. Ou então para conquistar em um novo meio. Por um tempo isso não o incomodou. Contudo, tudo o que mais temos de especial encontra um fim. A impermanência das coisas não perdoa nada, não nos perdoa. Por que deveria? Somos seres patéticos vivendo uma vida de fantasia, distante da realidade, realidade que só pode ser observada quando paramos de observar e passamos a senti-la.
      O colégio foi sempre uma mamata, tudo era simples. Relacionamentos com garotas começaram tardiamente, o que se tornou em seguida uma de suas habilidades (e o fim disso também não tardaria a chegar). As dificuldades para manter o status começaram a aparecer na faculdade, mas foram superadas ou então ignoradas. Não dá para ignorar nada. As coisas ignoradas não são pedras que ficam no caminho quando desviadas. Elas se movem para a próxima curva, pegam atalhos para chegar na nossa frente antes do próximo destino. 
      O primeiro exame, a primeira reprovação em uma disciplina. Parecia o fim daquilo que o identificava, daquilo que as pessoas viam dele. Como contar isso para os pais, os tios, os amigos de infância? Os próprios colegas passariam a vê-lo com um comum. Ele não seria mais um dos melhores da turma, afinal tinha pego exame e reprovado. Aliás, foram mais de um exame, os quais vieram a se repetir a cada novo semestre.
      Algo mudou. Ele não era mais aquele que sempre foi. O que estava acontecendo ainda não era claro, mas para os outros ele não era mais aquele ser inteligente. Isso lhe doía, o fazia sentir vergonha de si, baixar a cabeça e não mais se sentir no direito de opinar sobre algo. Ora, como poderia? Ele havia morrido, mas seu corpo ainda estava lá com todas as suas funções normais. Respirava, comia, dormia, caminhava...mas se sentia morto. Algo tinha morrido, mas o que, afinal? Se não ele, o que?

(....)  

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Diário de um aprendiz da vida

22/06/13, Parque Santos Dumont, São José dos Campos, 15:39h



BELEZAS DO DIA
O sol e as sombras das plantas. Fiz uma foto, mas ainda não sei como ficou. Poderia ficar meditando horas com essa cena. Fiz uma foto da minha sombra também.
Um sanhaçu-cinzento toma banho no jato do chafariz que chega até o galho de uma árvore. Ele parece feliz, indo e saindo de baixo dos pingos que voltam a cair sobre o galho. Fica alguns segundos sob eles e sai, sacudindo-se e retornando. Com a chegada de um sabiá-barranco ele parte.
Sinto estar vivo quando gotículas do chafariz caem sobre mim com a mudança na direção do vento. Com a frase "Nossos passos devem estar apoiados no Amor que Devora, porque é ele quem guia e justifica todos os seus passos", do livro O Diário de um Mago do Paulo Coelho, reencontro um caminho que perdi nas últimas semanas.

domingo, 26 de maio de 2013

Zen e a arte da otimização do tempo



Para os que como eu buscam uma mente concentrada, certamente se vêem em situações de divagações e perda de tempo com atividades que não trazem retorno ou então com um tempo mal empregado nas atividades que desempenham. Infelizmente, essa é uma característica comum em muitas pessoas e as razões podem ser diversas ou talvez uma, a qual ainda não me atrevo a comentar, pois requer ainda um tanto de reflexão e estudo.

Lá por 2004 meu interesse pelo Budismo começou a nascer e se aprofundou ao término do meu mestrado em 2009. De lá pra cá, tenho encontrado muitas explicações e formas para entender e começar a tomar as rédeas dos meus processos mentais. Comecei com o budismo tibetano (Mahayana), o qual me propiciou uma visão profunda da psicologia oriental e agora, com o budismo Zen, uma prática direta ao ponto-chave da questão.

Lendo o primeiro livro do Alan Watts, O Espírito do Zen, encontrei uma descrição perfeita de como me relaciono com o tempo e com minhas atividades. Se tu tiveres interesse nesse assunto, leia essa página com afinco. Primeiro leia ela toda para ter uma noção do que se encontra e depois volte frase por frase, parando um tempo em cada uma para refletir e ver como ela se aplica na tua vida, passando para a frase seguinte. Essa técnica de leitura é uma das melhores para a compreensão de um texto, pois primeiro elimina a ansiedade natural por saber o que tem no texto e depois nos propicia a calma necessária para a compreensão das palavras e das frases.

Os mestres Zen dizem que o conhecimento não está disponível para todos porque nem todos estão aptos a entendê-lo. A capacidade de compreensão começa pela paciência com o tempo e com o estudo e o primeiro passo é se concentrar no texto que se está estudando, esquecendo os demais compromissos e pensamentos. Zen é isso, ou quase isso. Zen não tem definição. Zen é agora.

Eis o texto (transcrevo aqui a página 113 da versão pocket da L&PM de 2009, referência no final do texto):

“O bom caminhante usa apenas a quantidade necessária de energia para se deslocar. Não deixando rastros, seu andar é suave e não levanta poeira. O taoísta diria que, se o caminhante levanta poeira, é sinal que está usando demasiada energia para a sua finalidade; com isso ele se cansa desnecessariamente, indo para onde não deseja e levantando poeira. Apesar de esta analogia não ser muito própria, o princípio básico é o segredo da concentração e do sucesso em qualquer forma de atividade. Devemos usar a quantidade exata de energia para alcançar um determinado resultado, mas como regra comum o homem torna a própria vida mais difícil do que o necessário, desperdiçando uma enorme quantidade de energia em cada tarefa que executa. Em primeiro lugar, o total de energia despendida é maior do que a necessária para fazer a tarefa; em segundo lugar, somente uma pequena porção dela é absorvida na execução da tarefa, pois está esparramada por todos os lados em vez de ser dirigida para um ponto. Daí o mestre Pai-chang dizer que o Zen significa “comer quando temos fome, dormir quando estamos cansados... A maioria das pessoas não come, mas pensa numa variedade de coisas, deixando-se perturbar por elas; essas pessoas não dormem, mas sonham com mil e uma coisas.” A mente descontrolada usa sua energia em inumeráveis aborrecimentos, distorções e ideias vagas, em vez de se aplicar a uma coisa de cada vez e, por esse motivo, nunca alcança completamente o que se propõe fazer. No momento em que começa uma coisa, corre para outras, exaurindo-se nessa tremenda quantidade de atividade desperdiçada. Em comparação com isso, a atividade do taoísmo e do Zen pode parecer insignificante, mas isso se deve ao fato de guardar energia em reserva; sua calma é o resultado de uma atitude mental dirigida para um único ponto; tomam cada coisa como vem, terminam com ela e passam para a próxima, evitando dessa forma todas as voltas para trás e para frente, todas as preocupações com o passado e com o futuro, pelas quais a atividade simplesmente se anula.”

Watts, A. 2009. O Espírito do Zen: um caminho para a vida, o trabalho e a arte no Extremo Oriente. Porto Alegre: Ed. L&PM, 144p.

=)

sábado, 6 de abril de 2013

Gentileza gera gentileza: tanta gente fala, mas poucos a aplicam



É como eu digo e tento colocar em prática. Atitudes positivas tendem a gerar atitudes positivas. O filme "A Corrente do Bem" é mais um exemplo. Mas vamos tentar colocar em prática, pelo menos em mente. Imagine a situação: tu passas por esse agente de trânsito que, ao invés de te multar por estares sem cinto, conversa contigo naquele espírito que viste no vídeo. Tu não sairás com uma sensação de positividade? Será que na próxima situação em que tu te envolveres de stress, tu não estarás mais apto para agires positivamente também? 

Penso que um dos grandes problemas do jornalismo de hoje é veicular quase que exclusivamente situações negativas (crimes e outros tipos de violência). Acredito que isso tenha um  impacto negativo sobre a positividade das pessoas. Ora, por que serei cordial com essa pessoa se a qualquer momento ela pode fazer algo contra mim? Creio que é assim que muitos pensam devido ao autocentramento que as situações negativas geram. Isso acaba gerando feedbacks que só aumentam tal efeito e os disseminam. Lembro das palavras de Thoreau que dizia preferir ficar longe dos jornais e a cada dia entendo mais ele: "Benditos os que não lêem jornais, porque verão a Natureza e, através dela, Deus".

Toda vez que tu sorires e ajudares alguém, tenhas certeza de que isso gerará uma reação em cadeia positiva. Seja lá o que fazemos no nosso dia-a-dia, como esse agente, temos o potencial de transformar a realidade. Vejam o poder do indivíduo, vejas o teu poder. "Let's change the world" começando dentro de casa e ao sair pelo portão dela.

Assista o vídeo do guarda e para completar uma música gostosa com cenas do filme Corrente do Bem. Atentem-se para a última frase no clip.

=)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma breve sobre os rumos divergentes entre a ciência e a política


O post anterior me fez pensar na questão levantada na orelha do livro  "O fim da ciência" de John Horgan: "A sociedade faria melhor em reduzir os esforços de natureza científica a que tem se dedicado e concentrar mais seus recursos na aplicação do que já se sabe, de modo a melhorar a condição humana?". Em outros tempos talvez eu diria que sim, talvez amanhã voltarei a dizer que sim, não sei...tudo transmuta no tempo e no espaço, certo? O fato é que o cientista tem que estar na vanguarda das descobertas, movendo-se atrás da "verdade inalcançável" e o que em si foi gerado de conhecimento deveria ser aplicado pelos nossos tomadores de decisão (políticos!) de forma racional e baseada na ciência. Só assim é que teríamos uma melhora gradativa na condição humana (física e mental). Numa analogia, o cientista seria como uma perfuradora abrindo a rocha e os tomadores de decisão os operários que viriam atrás reforçando a fundação do túnel. O problema é que hoje os políticos querem perfurar a rocha em caminhos próprios, baseados em seus interesses e sem base científica nenhuma. O resultado disso será um desmoronamento do túnel com prejuízos para todos, uma vez que esses foram pelo caminho sem base e os cientistas e a sociedade ficaram sem os reforços atrás de si. No fim, vejo que as topeiras e seus túneis são mais inteligentes que nós humanos, pois elas sabem aonde devem ou não cavar e a como sustentar os túneis cavados.

A ESTRADA DO COLONO, O POLÍTICO E O MacLANCHE: Há algo em comum?



E daí perguntamos do que vale tudo o que se sabe sobre Ecologia de Estradas...bando de sem noção...pior é a frase "o meio ambiente somos todos nós". Contudo, analisando como pensam políticos desse naipe, é fácil concluir que não importa o que diz a ciência, mesmo que ela traga uma certeza sobre os fatos. Há um processo em suas mentes que fecha a análise racional da importância dos fatos e foca no que os move em função do interesse. É lógico que o motivo principal é eleitoreiro, mas também há o interesse inegável da população pela estrada que se sobrepõe ao impacto ambiental, o qual não é sentido diretamente. O interesse para o seu bem-estar (da população) com a estrada funciona no mesmo nível do interesse do político com os votos que ganhará ao brigar pela estrada. É praticamente a mesma coisa quando se come um MacLanche: sabe-se que não é saudável, mas o interesse movido pela vontade é maior e sobrepõe o que se sabe sobre a qualidade e o efeito na saúde. Em níveis, o processo mental é o mesmo e o que muda é apenas a consciência coletiva. Talvez...

Notícia:

Aprovado relatório do projeto que reabre a estrada do colono

sábado, 30 de março de 2013

Política brasileira: estamos no fundo do poço?

Não lembro, desde os anos 2000 quando comecei a acompanhar mais de perto a política nacional e mundial, um momento tão deplorável dos rumos nacionais. Não lembro de ter visto um presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara tão desqualificado pelos seus preceitos morais e éticos quanto o Deputado Feliciano. O mesmo vale para o Senador Maggi como presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado. Como pode pessoas tão definidas pelos seus interesses e pontos de vista assumirem tais cargos? Hoje li a notícia de que o Dep. Edson Santos defende a usurpação das terras do Horto Florestal do Jardim Botânico do RJ. E tem mais, pior de tudo...tem.

Não há muito o que se falar mais do que tem se falado em blogs, facebook, jornais etc. A indignação da sociedade com essa falta de democracia nas eleições desses representantes para os tais cargos, bem como os lados defendidos por esses e demais deputados e senadores só demonstram o total descaso com o que deseja a sociedade brasileira. Os interesses políticos e econômicos dos "amigos" desses políticos (e do PT também) estão ditando os rumos do Brasil. Temos os absurdos das hidrelétricas na Amazônia, o descaso com as populações indígenas que estão sendo arrebatadas de suas terras para o "desenvolvimento do país".

A história do Brasil irá mostrar que a primeira mulher no poder, que poderia mostrar o lado feminino de governar (com justiça e igualdade), realizou um dos piores governos do país, cometendo e sendo passiva (e co-responsável) pelos maiores absurdos ocorridos. Dilma terá que conviver com isso. Contudo, pelos rumos ditantes, acho que ainda não chegamos no fundo do poço. Talvez nem alcançamos a lâmica d'água. Temo pelo que pode ainda acontecer se a sociedade ficar passiva da forma que está.

Quero começar nessa postagem uma listagem de absurdos políticos no país. Colabore enviando links com as notícias para meu email: vagner.camilotti@gmail.com

Notícias do declínio político
Em Brasília - Aonde as piores coisas ocorrem:
- Senador Maggi presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado

Nos Estados - Aonde as piores coisas continuam a ocorrer
- Deputado Edson Santos defende usurpação das terras do Horto Florestal

- Expulsão de índios de suas terras

- Construção de Belo Monte

- Outras hidrelétricas
   -Na Amazônia
   -No Pantanal
   -Quem está ganhando com isso?

Gastos com a Copa do Mundo e Olimpíadas
-Contraste com a situação da saúde e outras necessidades nacionais
-Relado em vídeo do contraste nos investimentos para a o Estádio Itaquerão e a ciclovia que há décadas não sai do papel - o que seria mais importante para o social?

-Oque mais??

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre a expansão da consciência e a música


Expandir a consciência significa aqui nada mais do que ficar consciente pelo maior tempo que for possível.  Ficar consciente significa então estar presente, analisando algo sem vieses, sem interferências, preconceitos, nada, só a própria natureza do que está sob análise. Somente assim é possível se chegar o mais próximo da verdade sobre aquilo. Descartes em seu "Discurso do Método" fazia algo assim com o uso da razão e da negação, mas ainda assim é possível ver que ele não se livrou de todos os vieses. Mas será que é possível?

Ficar consciente no meu caso em particular ocorre em determinados momentos quando faço uso de algumas técnicas. Contudo, já me percebi achando que estava consciente e ao observar melhor me vi em volto de vieses que determinavam a forma como eu estava analisando algo.

Hoje à noite tive um insight sobre o que busco fazer na vida. Isso é algo que tem me incomodado há um bom tempo e talvez logo volte. Infelizmente ainda não consigo fazer o que seria o correto fazer: nada! Nada mesmo, ficar apenas a mercê dos fatos, wu wei, algo que fazem os taoístas. De uma forma geral seria fazer o que se tem que fazer no momento, focar nisso e esperar pelo encaixamento dos fatos no universo, que tende a conspirar a nosso favor. É claro que tem outros pormenores nessa filosofia, os quais não entrarei em detalhes aqui, não agora.

Voltando ao insight que tive. O que me levou a ele foi a música do Enigma "Rivers of Belief". Em geral, as músicas desse grupo/projeto possuem elementos místicos e, entre eles, sons de flautas de índios norte-americanos que são os que possuem um efeito tremendo sobre minha consciência. Isso me faz pensar numa forma semelhante ao efeito de algumas taças de vinho, técnica que também faço uso principalmente nas noites de Sexta-feira. A música tem esse poder sobre mim. É uma ferramente que há muito venho comentando com amigos em geral. Associada à noite, ela me leva para uma viagem de autopercepção em que consigo identificar o que está atrapalhando o meu pensar. Um exemplo é que esses textos que aqui escrevo foram praticamente todos escritos depois das 22 horas, todos influenciados pelo vinho ou pela música. Sherlok Holmes, segundo seu criador, Conan Doyle, fazia uso de drogas como a cocaína e a heroína para solucionar casos complexos (não irei chegar a esse ponto, com toda a certeza!).

Os próximos passos são os de aprofundar minha capacidade meditativa e, com isso, meditar mais sobre o wu wei. Fritjof Capra faz uso desse, bem descrito no processo de desenvolvimento de suas teorias no livro "Sabedoria Incomum" (recomendo-o). Minhas análises recentes mostram como o wu wei funcionou para muitas pessoas que atingiram o sucesso sem mesmo conhecer o wu wei. Quero escrever sobre isso ainda, mas preciso me organizar e desenvolver essa pesquisa de forma mais aprofundada. Enquanto isso, a combinação de Enigma com um Shiraz vai ajudando.

=)

terça-feira, 5 de março de 2013

Do fingir de não saber



Gostaria que a lua soubesse falar. Como é chato ficar olhando para ela, achar ela bonita em todas suas formas e ela lá, quieta, andando de um lado pro outro. Monólogos na noite! Ela poderia dizer o porquê que brilha, que fica cheia e vai se apagando até sumir, depois voltando a desfilar reluzente no céu. Por que ela sorri com aquele sorriso de Buddha? Por que...
Eu sei os porquês. Não é chato ficar olhando pra ela e ela também conversa. Fala muito, inclusive. O que acontece é que às vezes não quero saber os porquês para ficar apreciando ela por mais tempo. Saber dos porquês tira a graça. Para apreciar não é necessário conhecer nomes, cores e cheiros.
Apreciar é apenas sentir.

Uma música para acompanhar (Mas al norte del recuerdo - Malpais).

=)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O perigo de ideias impensadas: o caso de Ayn Rand e os rumos da economia


Uma ideia, seja ela boa ou ruim, pode mudar o mundo se alguém se beneficiar economicamente dela. Mas nesse caso, o que é bom ou ruim? Qual a definição de bom ou ruim? No caso em particular que irei apresentar, o ruim se tornou bom para um pequeno grupo de ricaços americanos e que acabou ditando muito das regras do capitalismo. Contudo, dentro de minha visão holística e altruísta de bom e ruim, bom é quando todos se beneficiam e os efeitos colaterais são mínimos ou inexistentes. Ruim é simplesmente o contrário disso.

O caso me surgiu hoje ao assistir um documentário constituído de vários episódios que é apresentado na TV Futura intitulado “Por que pobreza” (Why poverty). Nesse, em particular (veja aqui), o tema central foram os executivos ricos que vivem na Park Avenue em New York e políticos (também ricos) que defendem o liberalismo econômico e o corte de impostos para os ricos e diminuição nos programas sociais para os pobres (como se os EUA tivessem muitos). O que impressionou de fato foi que, para os políticos determinados a diminuir ainda mais os impostos dos ricos, as ideias vem de uma escritora e também dita “filósofa” chamada Ayn Rand que, dentre suas obras, escreveu Atlas Shrugged (no Brasil, A Revolta de Atlas). Nesse livro a escritora deixa clara a ideia implícita e explícita que pode ser entendida nessa frase de sua autoria: “Não se sacrifique por ninguém e muito menos espere que alguém se sacrifique por você.” Nela é evidente o ideal centrado no indivíduo e na competição entre os humanos. No livro, Rand tenta mostrar como que a taxação dos mais ricos culminaria com o desmoronamento da sociedade americana. Assim, esses resolvem criar uma nova sociedade nas montanhas baseadas nos ideiais do liberalismo e do capitalismo e com a ausência de intervenção do governo. A partir dessa história crazy, seus defensores (ricaços e políticos republicanos) tem argüido que os impostos para os ricos devem diminuir (ou serem banidos, coisa que o Bush deu um baita passo) e os programas assistências para os pobres diminuírem consideravelmente. A ideia é implantar um processo de “seleção natural”: ou tu competes para te tornares rico (a) ou tu ficarás na pobreza por tua conta. Que sociedade ela pensou estar criando, afinal? Do meu ponto de vista é o capitalismo que tem levado a decadência e desmoronamento da sociedade mundial. Não consigo ver o contrário.

Assistindo uma entrevista dela (veja aqui) fiquei estupefado com suas afirmações. Sua visão egocêntrica baseada no capitalismo e competição desenfreada entre as pessoas contrastou com as visões pacíficas do Dalai Lama que no mesmo dia postei no facebook. Não resolvi escrever para criticar o ponto de vista dessas pessoas, até porque pouco adiantaria. Tem gente melhor do que eu fazendo isso, o que pode ser visto no documentário Park Avenue da série Why Poverty. O que me levou a escrever sim foi a constatação do poder de uma ideia, seja ela boa ou ruim (de acordo com minha definição de bom ou ruim no início). Fiquei tentando imaginar o que se passou na cabeça da Rand ao bolar tais ideias. Não sei, de vez em quando tenho algumas ideias que parecem ser perfeitas para solucionar um problema e logo corro para escrever. Teve vezes em que me precipitei em publicá-las aqui no blog ou no facebook e depois vi o quão equivocado eu estava. Menos mal que elas não tiveram repercussões maiores e eu percebi a tempo de não passar por mais idiota ainda se tentasse defendê-las. Será que isso aconteceu com a Rand? Será que ela teve essa ideia maluca e foi em frente sem questionar o impacto disso para a sociedade e para o mundo? Ora, a ideia é pesada e deu fortes argumentos para os Republicanos (nisso, o Bush) cortarem impostos dos ricos e benefícios dos pobres. Eles adoraram a ideia porque os beneficiaria, lembrando que a massa republicana americana é formada pelos multimi/bilionários. Não sei. Penso que ela teve a ideia, soltou a coisa e depois teve que defender, já que ganhou tantos adeptos e fama. Será que pesou alguma culpa nela ou ela acreditava piamente naquilo? Como é possível acreditar em algo assim? O que tem de diferente entre a mente de pessoas que pensam no individualismo e naquelas que pensam o coletivo? Apenas interesses particulares? Aonde que entra a razão nisso tudo? Há uma razão, afinal?

Quero estudar mais seu papel na economia mundial e sua vida. Seu “macabronismo” me fascinou. Entender pessoas assim é interessante, porque são as ideias delas que se deve enfrentar quando se quer tornar um mundo mais justo e igualitário. Escreverei mais sobre isso e inclusive complementarei esse texto. Senti que faltou apresentar mais suas ideias e discuti-las. Assim o farei quando o doutorado me permitir.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Relacionamentos e expectativas: um conselho que pode servir para qualquer um


Uma pessoa querida me pede um conselho para a o seu relacionamento, se deve ou não investir nele. Eis o que respondi e que pode servir para qualquer um que esteja em situação similar ou, melhor, que esteja se relacionando.
“Entendo-te e muito. Sabes, haveria uma resposta simples para isso: deixe acontecer! O problema dessa resposta simples é que nesse deixar acontecer, nós vamos criar expectativas as quais, na grande maioria dos casos não serão alcançadas. Vejas bem...se tu gostas dele, poderias deixar a coisa rolar, acontecer e tal sem se apegar a situação, ver até aonde iria e se chegar num ponto final, beleza, não importa! Isso se chama viver apenas o presente, mas nas relações, principalmente, é aonde mais colocamos expectativas e expectativas são os piores venenos pra alma, seja aonde for. Não deveriam existir expectativas em nada, nem essa palavra deveria existir. Mas como estamos numa vida de testes, elas existem, bem como outras coisas, o medo p.ex. Queremos que dê certo aquilo, não queremos ser traídos, queremos isso, esperamos aquilo. Ora, tudo pode acontecer da noite pro dia ou no segundo seguinte. Veja o caso das mais de 230 mortes numa boate lá em Santa Maria, de onde vim. Do que adiantou para eles terem medos de fazer coisas na vida? (vejas um texto que escrevi no meu blog sobre isso - http://vida-ciencia-filosofia.blogspot.com.br/2013/01/santa-maria-continua-me-ensinar.html)
Meu conselho de verdade seria o mesmo que o do Lama...viva!!!!! Mas viva sem medo e sem expectativas. Tudo pode dar certo como pode dar errado. Tudo no fim se resume a experiências vividas, tendo dado elas certo ou errado...tudo acaba sendo a mesma coisa. Mas se decidires viver a relação com medos e expectativas, já te adianto que tu irás sofrer, talvez muito, pois terá dias que ele poderá sumir, não te dar a atenção que tu esperas, encontrar uma outra pessoa por lá ou até mesmo se acertar com aquela que provavelmente deu um fora nele. Não vamos ser hipócritas e ignorar isso, pois de fato essas coisas acontecem!! O aprendizado em se relacionar, e isso serve pra mim tb, é fazer o que os mestres vêm a séculos falando: viva o presente, simplesmente isso!
Think about it!!!!!

=)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria continua a me ensinar


Fiz minha faculdade de Medicina Veterinária de 2001 a 2007 em Santa Maria. Foram seis anos vivendo, errando e aprendendo lá. Seis anos se passaram desde que deixei a cidade e nesse tempo sempre algo veio de lá para mim. Assim continua.
Nesses dias pós-evento na Boate Kiss, que resultou no desencarne de mais de 230 jovens, estou tentando olhar para o que aconteceu por um olhar diferente. Não quero ficar pensando em quem são os culpados, os problemas das casas noturnas que todo mundo sabe existir, até quem frequenta  e que só vem à tona quando acontece um evento assim (hipocrisias à parte de todos), o que poderia ter sido feito para evitar (isso cabe às autoridades), além das barbaridades de ideias como cancelar o carnaval. Ora, não gosto de carnaval, mas o que aconteceu não é razão para cancelá-lo. Há um modus operandi na forma de pensar que me incomoda.
Quero olhar para o que aconteceu como um ensinamento dado pelos que deixaram de estar presentes entre nós. Analisando por meio do meu viés Budista e Espírita a coisa toda, fiquei pensando qual a lição que poderia tirar desse trágico evento. Fico pensando em quantos daqueles jovens desencarnaram sem nunca expressarem seus sentimentos para as pessoas que amam, quantos estavam lá brigados com pessoas próximas e que morreram sem poder se desculpar, entender ou mesmo perdoar. Quantos estavam lá pensando em apenas se dar bem na noite, sem se questionar sobre valores éticos e morais. Para alguns ou muitos, provavelmente sair, beber e “pegar” era o único prazer que possuíam e o resto eram obrigações ou necessidades. Quantos estavam deixando para amanhã fazer algo que queriam muito fazer ou quantos que nunca pararam para pensar no que gostariam de fazer de fato, mesmo estando na universidade. Quantos estavam naquela noite sofrendo com medos e expectativas sobre a vida, relacionamentos etc.? Não os estou criticando, que isso fique bem claro, até porque eu mesmo já me comportei e me comporto da mesma forma em muitos aspectos.
Ajudar as pessoas a terem um bem-estar melhor é meu maior objetivo e até isso tenho adiado de alguma forma. Meu doutorado tem me consumido pela minha falta de objetividade em muitas coisas. Fico perdendo tempo com coisas à toa (p.ex., facebook, em partes, é uma delas). Por mais que goste de conversas construtivas, tenho desperdiçado tempo com algumas fúteis. Quero ler os livros que comprei, mas só os vejo se amontoarem na minha modesta biblioteca. Quero iniciar vários projetos de ação coletiva e social, mas, por causa de alguns hábitos os tenho deixado engavetados. Quero corrigir muitas faltas minhas com as pessoas, mas me vejo empacado em algumas. Quero evoluir como ser humano e espiritual, mas vivo deixando para amanhã. Quero esquecer o futuro e suas preocupações, mas acordo pensando "será que vai dar certo" ou "será que vou conseguir". Quero ser melhor nessa vida e a aproveitar da forma mais produtiva possível, mas posso perder o tempo que tenho ficando deitado numa cama a manhã toda e morrer logo mais.
Que a partida de todos eles se justifique para mim me ensinando alguma coisa. Que me ensine, principalmente, que meu tempo aqui é limitado e essa impermanência me faça ver o valor real das coisas, da minha curta vida e que me faça ser menos hipócrita do que sou hoje e perceber a beleza do agora, do presente, sem medos e expectativas, e o presente em si que isso é.
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