Fiz minha faculdade de Medicina
Veterinária de 2001 a 2007 em Santa Maria. Foram seis anos vivendo, errando e
aprendendo lá. Seis anos se passaram desde que deixei a cidade e nesse tempo
sempre algo veio de lá para mim. Assim continua.
Nesses dias pós-evento na Boate
Kiss, que resultou no desencarne de mais de 230 jovens, estou tentando olhar
para o que aconteceu por um olhar diferente. Não quero ficar pensando em quem
são os culpados, os problemas das casas noturnas que todo mundo sabe existir,
até quem frequenta e que só vem à tona quando acontece um evento
assim (hipocrisias à parte de todos), o que poderia ter sido feito para
evitar (isso cabe às autoridades), além das barbaridades de ideias como
cancelar o carnaval. Ora, não gosto de carnaval, mas o que aconteceu não é
razão para cancelá-lo. Há um modus operandi na forma de pensar
que me incomoda.
Quero olhar
para o que aconteceu como um ensinamento dado pelos que deixaram de estar
presentes entre nós. Analisando por meio do meu viés Budista e Espírita a coisa
toda, fiquei pensando qual a lição que poderia tirar desse trágico evento. Fico
pensando em quantos daqueles jovens desencarnaram sem nunca expressarem seus
sentimentos para as pessoas que amam, quantos estavam lá brigados com pessoas
próximas e que morreram sem poder se desculpar, entender ou mesmo perdoar.
Quantos estavam lá pensando em apenas se dar bem na noite, sem se questionar
sobre valores éticos e morais. Para alguns ou muitos, provavelmente sair, beber
e “pegar” era o único prazer que possuíam e o resto eram obrigações ou
necessidades. Quantos estavam deixando para amanhã fazer algo que queriam muito
fazer ou quantos que nunca pararam para pensar no que gostariam de fazer de
fato, mesmo estando na universidade. Quantos estavam naquela noite sofrendo com
medos e expectativas sobre a vida, relacionamentos etc.? Não os estou
criticando, que isso fique bem claro, até porque eu mesmo já me comportei e me
comporto da mesma forma em muitos aspectos.
Ajudar as
pessoas a terem um bem-estar melhor é meu maior objetivo e até isso tenho
adiado de alguma forma. Meu doutorado tem me consumido pela minha falta de
objetividade em muitas coisas. Fico perdendo tempo com coisas à toa (p.ex.,
facebook, em partes, é uma delas). Por mais que goste de conversas
construtivas, tenho desperdiçado tempo com algumas fúteis. Quero ler os livros
que comprei, mas só os vejo se amontoarem na minha modesta biblioteca. Quero
iniciar vários projetos de ação coletiva e social, mas, por causa de alguns
hábitos os tenho deixado engavetados. Quero corrigir muitas faltas minhas com
as pessoas, mas me vejo empacado em algumas. Quero evoluir como ser humano e
espiritual, mas vivo deixando para amanhã. Quero esquecer o futuro e suas
preocupações, mas acordo pensando "será que vai dar certo" ou
"será que vou conseguir". Quero ser melhor nessa vida e a aproveitar
da forma mais produtiva possível, mas posso perder o tempo que tenho ficando
deitado numa cama a manhã toda e morrer logo mais.
Que a
partida de todos eles se justifique para mim me ensinando alguma coisa. Que me
ensine, principalmente, que meu tempo aqui é limitado e essa impermanência me
faça ver o valor real das coisas, da minha curta vida e que me faça ser menos
hipócrita do que sou hoje e perceber a beleza do agora, do presente, sem medos
e expectativas, e o presente em si que isso é.
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