domingo, 26 de maio de 2013

Zen e a arte da otimização do tempo



Para os que como eu buscam uma mente concentrada, certamente se vêem em situações de divagações e perda de tempo com atividades que não trazem retorno ou então com um tempo mal empregado nas atividades que desempenham. Infelizmente, essa é uma característica comum em muitas pessoas e as razões podem ser diversas ou talvez uma, a qual ainda não me atrevo a comentar, pois requer ainda um tanto de reflexão e estudo.

Lá por 2004 meu interesse pelo Budismo começou a nascer e se aprofundou ao término do meu mestrado em 2009. De lá pra cá, tenho encontrado muitas explicações e formas para entender e começar a tomar as rédeas dos meus processos mentais. Comecei com o budismo tibetano (Mahayana), o qual me propiciou uma visão profunda da psicologia oriental e agora, com o budismo Zen, uma prática direta ao ponto-chave da questão.

Lendo o primeiro livro do Alan Watts, O Espírito do Zen, encontrei uma descrição perfeita de como me relaciono com o tempo e com minhas atividades. Se tu tiveres interesse nesse assunto, leia essa página com afinco. Primeiro leia ela toda para ter uma noção do que se encontra e depois volte frase por frase, parando um tempo em cada uma para refletir e ver como ela se aplica na tua vida, passando para a frase seguinte. Essa técnica de leitura é uma das melhores para a compreensão de um texto, pois primeiro elimina a ansiedade natural por saber o que tem no texto e depois nos propicia a calma necessária para a compreensão das palavras e das frases.

Os mestres Zen dizem que o conhecimento não está disponível para todos porque nem todos estão aptos a entendê-lo. A capacidade de compreensão começa pela paciência com o tempo e com o estudo e o primeiro passo é se concentrar no texto que se está estudando, esquecendo os demais compromissos e pensamentos. Zen é isso, ou quase isso. Zen não tem definição. Zen é agora.

Eis o texto (transcrevo aqui a página 113 da versão pocket da L&PM de 2009, referência no final do texto):

“O bom caminhante usa apenas a quantidade necessária de energia para se deslocar. Não deixando rastros, seu andar é suave e não levanta poeira. O taoísta diria que, se o caminhante levanta poeira, é sinal que está usando demasiada energia para a sua finalidade; com isso ele se cansa desnecessariamente, indo para onde não deseja e levantando poeira. Apesar de esta analogia não ser muito própria, o princípio básico é o segredo da concentração e do sucesso em qualquer forma de atividade. Devemos usar a quantidade exata de energia para alcançar um determinado resultado, mas como regra comum o homem torna a própria vida mais difícil do que o necessário, desperdiçando uma enorme quantidade de energia em cada tarefa que executa. Em primeiro lugar, o total de energia despendida é maior do que a necessária para fazer a tarefa; em segundo lugar, somente uma pequena porção dela é absorvida na execução da tarefa, pois está esparramada por todos os lados em vez de ser dirigida para um ponto. Daí o mestre Pai-chang dizer que o Zen significa “comer quando temos fome, dormir quando estamos cansados... A maioria das pessoas não come, mas pensa numa variedade de coisas, deixando-se perturbar por elas; essas pessoas não dormem, mas sonham com mil e uma coisas.” A mente descontrolada usa sua energia em inumeráveis aborrecimentos, distorções e ideias vagas, em vez de se aplicar a uma coisa de cada vez e, por esse motivo, nunca alcança completamente o que se propõe fazer. No momento em que começa uma coisa, corre para outras, exaurindo-se nessa tremenda quantidade de atividade desperdiçada. Em comparação com isso, a atividade do taoísmo e do Zen pode parecer insignificante, mas isso se deve ao fato de guardar energia em reserva; sua calma é o resultado de uma atitude mental dirigida para um único ponto; tomam cada coisa como vem, terminam com ela e passam para a próxima, evitando dessa forma todas as voltas para trás e para frente, todas as preocupações com o passado e com o futuro, pelas quais a atividade simplesmente se anula.”

Watts, A. 2009. O Espírito do Zen: um caminho para a vida, o trabalho e a arte no Extremo Oriente. Porto Alegre: Ed. L&PM, 144p.

=)

Um comentário:

  1. Muito bom!!! Acho que ainda não estou pronto para entender. Por isso estou preso em muitos sofrimentos.

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