sexta-feira, 28 de junho de 2019

A sociedade do futuro começa na tua mente


B.F. Skinner, famoso psicólogo comportamental, escreveu o romance – se assim dá para o chamar – Walden II, Uma Sociedade do Futuro, creio que motivado pelo célebre livro de Thoreau, onde descreve então a criação de uma comunidade alternativa ao modelo de desenvolvimento em voga. A partir da “engenharia do comportamento”, a comunidade se estrutura com novos formatos de ensino, trabalho e modos de vida. Difícil alguém ler e não se motivar com uma sociedade utópica como a qual. A ideia básica é que uma sociedade pode ser melhor conduzida a partir da ciência do comportamento, ou seja, ao se entender a psicologia humana e a partir disso desenvolver todo o modelo de desenvolvimento e envolvimento social para se atingir um estado de bem-estar único e jamais atingível dentro do nosso atual modelo de vida.
Eu poderia escrever muito mais sobre esse livro, mas nesse momento me atenho a uma passagem que, para mim, é central:

“(...) nós estimulamos nossa gente a olhar cada hábito e costume tendo em vista um possível aperfeiçoamento. Uma atitude constantemente experimental com relação a tudo – é isso que precisamos. Soluções para problemas de todo o tipo se seguem quase que milagrosamente”.

Percebem a profundidade dessa ideia? Ela quer dizer que, para acharmos as soluções para os problemas, primeiro temos que analisar todo o nosso comportamento, nisso nossos hábitos, nossa própria cultura (e daí eu sugeriria, se te interessares sobre esse pensamento, que estude a ideia de cultura para entenderes que cultura não é necessariamente algo bom!). Repensar nossas atitudes que se expressam a partir de comportamentos embutidos numa cultura geralmente invisível. Por que temos que nos vestir assim? Por que tenho que parecer sexy? Por que posto tantas fotos no Facebook/Instagram? Por que penso tão pouco acerca do todo, do mundo, do bem-estar das outras pessoas e tanto sobre o que eu quero ou não quero? Por que tenho que ter isso, agir assim, pensar dessa forma etc.? Por que comprar isso? De onde vem esse produto que estou a consumir? 

Sem um olhar crítico sobre tudo o que se faz (e esse fazer está estruturado dentro de um rol limitado de ações culturais), nós continuaremos sempre na mesma situação. Percebam que as mudanças sociais/culturais ocorrem sempre quando alguém pensa em algo diferente. Alguém, outra pessoa, não tu que estás preso, cego dentro de um sistema onde todos os outros estão e isso faz com que seja “normal” agir e pensar igual a todos. Aí, tem sempre alguém fora da caixinha, buscando novas formas de pensar, agir e fazer. São essas pessoas que levam a humanidade para a frente, enquanto que os demais (e tu!) ficam no lastro dessas mentes.

Soa, assim, que é preciso ser alguém muito especial para causar tais mudanças. Errado. Apenas é necessário desenvolver um senso crítico para analisar o que nos acontece, o que ocorre dentro das nossas cabeças. Uns aprendem meditação e isso é uma forte ferramenta. Outros conseguem desenvolver um senso natural de observação da mente, das ações e começa, assim, a surgir naturalmente questões de “Por que isso é assim?”. Um senso crítico assim permite que essas pessoas não comprem ideias que chegam a elas via Whatsapp, Facebook ou mesmo por textos aparentemente bem escritos. Questionariam inclusive esse texto com questões razoáveis e não tendenciosas, marcadas por uma tendência de defender o seu modo de vida, aquilo que acreditam apesar de todas as evidências contrárias.

Nisso, tu entenderás o conceito de “conservador” e “progressista”, embora a diferença, no fim das contas, pode ser sutil. O conservador é aquele que se deu bem dentro de um modo de vida e quer mantê-lo de todas as formas. Nossa política é praticamente toda conservadora, mesmo entre aqueles que se chamam de progressistas (por isso a sutileza na diferença quando se trata de políticos). O Brasil é uma país extremamente conservador nesse sentido e isso se observa, p.ex., quando se vê a disputa entre o agronegócio e o meio ambiente (falo disso por ser minha área de estudo). De tão conservador, o agronegócio, mesmo quando tecnifica suas atividades, ainda assim permanece conservador na ideologia por trás de como percebe o mundo ao redor. Isso cria um conflito desnecessário, dando força à forças retrógradas do desenvolvimento social e político e essa força elege uma pessoa tão atrasada nisso e conservadora ao extremo como Bolsonaro. De tão conservadores (para manter seu modo de vida inviolável a qualquer custo), combatem até a ciência que aponta a real necessidade de se manter ecossistemas saudáveis para o próprio agronegócio progredir (polinizadores, água, chuva, temperatura, controle de pragas etc.). Não vou me prolongar nesse parágrafo, já que não é esse tema o propósito desse texto. No entanto, a chave para os problemas está nesse tipo de comportamento.

Não pensar nossos comportamentos e atitudes leva, como diz Skinner, a não encontrar a solução para os problemas que enfrentamos e nisso ficamos dando voltas e voltas sempre nas mesmas questões. Quem ler Etienne de la Boétie, A Servidão Voluntária, vai perceber que os problemas descritos por ele na França de 1500 são os mesmos que ainda enfrentamos hoje no mundo. Sem mudanças de cabeça, como diz Daniel Quinn em A História de B, ou mesmo Einstein (numa frase atribuída a ele), não sairemos dessa roda. A solução de um problema não pode ser encontrada pela mesma cabeça que o criou, disse supostamente Einstein. Essa mudança de cabeça só é possível com a mudança de comportamentos/atitudes e essa só ocorrerá através do aperfeiçoamento dos nossos hábitos, como supõe Skinner.

Será que a gente consegue? É uma batalha individual, não adianta. No entanto, comportamentos mudam também ao se observar a mudança do outro e isso tem um potencial ainda maior para a mudança individual: estimular a mudança em cadeia. Assim, que tu sejas uma semente de mudança ao começar a parar por um instante todo dia, sentar, respirar profundamente umas três vezes, ouvir o som ao redor, acalmar a mente e então começar a perceber os pensamentos que te surgem e te empurram para certos comportamentos e, tomando consciência deles, perguntar-se: “De onde veio esse pensamento? Por que ele surgiu? Por que eu quero fazer isso, afinal? O que quero atingir agindo assim?”

Perguntas simples, mas difíceis de serem feitas pela necessidade desse momento de calmaria e percepção de nós mesmos ao invés do que queremos que os outros pensem sobre nós. Mudanças, mudanças que queremos, a sociedade que buscamos viver e contribuir para. Mudanças possíveis unicamente com a nossa mudança (lembram daquela frase clássica que é preciso arrumar o nosso quarto antes de tentar mudar o mundo?). Comece hoje, comece agora. Por que não? Se chegastes até aqui na leitura, tens o potencial para tanto ao ter a paciência para ler um texto com mais de 4 linhas e sem um meme! Comece, sente, respire, olhe ao redor e comece a observar a tua mente...apenas a tua.

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