quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Esquerda vs. Direita e o ignorante caminho do ser humano


A solução para a crise política do ser humano vai chegar quando ele abandonar os lados que defende. Digo o porquê. A esquerda vive ainda num estado estático de pensamento em que vê duas entidades sólidas, como que constituída por seres diferentes, populações diferentes, quase que genética e morfologicamente: a classe trabalhista e a classe detentora dos meios de produção. Parece que o romantismo invade o cenário social onde se perpetua aquela ideia do bem contra o mal, a luta do império contra os rebeldes. Porém, são seres da mesma espécie, mesma constituição genética e tudo o mais, mas apenas – e é o que os diferencia – pensam diferente. Acreditam em coisas diferentes, valores diferentes. Enquanto que a esquerda olha para teorias sociais do passado, a direita olha ingenuamente para o futuro. O ponto positivo nisso é que a esquerda lê, mas se prende ao que lê. Vejo isso claramente no discurso de pessoas que lutaram contra a ditadura brasileira, apegados às ideias maoístas, stalinistas e trostkyanas e que hoje admitem que estavam equivocados. O socialismo funciona bem na teoria e não na prática, basicamente porque o ser humano ainda não está preparado para um sistema social de cooperação mútua e por isso o capitalismo vai funcionando, capengamente, mas vai. A esquerda tem sua fraqueza incurável no seu próprio ideal que ignora a realidade social, onde haverá um lado perdedor (o do capital) que em nenhum momento cessará de tentar voltar ao poder. Não é de estranhar que a URSS, Cuba e China tenham fuzilado tantos capitalistas para tentar evitar a volta desses, impondo um regime de terror para manter o poder. Somente assim se mantém, pois de outra forma o capital voltará, sempre, porque a força do capital e a sociedade viciada no materialismo o fará voltar. Quando não, a falta de uma moral no próprio ideal do partido eleito o fará se render aos bens do capital ou ceder a ele, exemplo claro com o PT no Brasil, embora de uma forma menos explícita e ainda mantendo o Estado aparelhado (embora frágil, dando forças para a direita voltar – e voltou!).

Por outro lado, a direita com seu liberalismo acredita que a livre concorrência, sem um estado gerenciando a coisa, permite um melhor desenvolvimento econômico da sociedade. Ela acredita na ideia ingênua de que com o desenvolvimento econômico virá também um desenvolvimento social. Um ponto central aqui é a necessidade de se separar dois grupos dos defensores do liberalismo: o assalariado e o detentor do capital. Quem acredita que o liberalismo trará benefício social é assalariado defensor da ideia, mas não creio que essa seja uma crença dos detentores do capital, pois eles não estão nem aí para a questão do desenvolvimento social – quanto menos desenvolvido o social, melhor para se aproveitar dele como mão de obra e como consumidor. Uma prova disso é que as estatísticas relacionadas ao PIB e o bem-estar social há décadas desmentem isso, mas o neoliberal assalariado quer continuar a acreditar, porque do contrário seria admitir que a esquerda está certa. Nietzsche já tinha alertado que “por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas”. Isso vale para a esquerda também.


O calcanhar de Aquiles da direita é a premissa de que a moral do homem irá nortear a interação do econômico com o social através de leis. O problema é que, como estamos cheios de exemplos, não há moral no meio político-econômico. A moral é uma natureza ainda a ser desenvolvida no ser humano e esperar que ela surja como num passe de mágica é ingênuo ou até insano da parte do liberal. O problema é que no liberalismo econômico, o ser humano é apenas um número que gera capital e esse capital tende a se acumular na mão de poucos, principalmente em países em desenvolvimento onde a população em geral é ainda analfabeta em política e em economia, fácil de ser manipulada (é o caso do Brasil). É só olhar para ver isso acontecendo hoje (ou o liberal acredita num outro tempo ainda a vir? Aí ele seria ainda mais ingênuo do que já é).



No liberalismo econômico, tudo se torna fonte de capital, até os itens básicos como a água, saúde, saneamento etc. Tudo vira moeda e só terá acesso aos recursos quem tiver a moeda. Há nisso a falsa ideia da meritocracia, que diz que toda pessoa que se esforçar terá seu lugar ao sol. Haja lugares ao sol para isso então, numa sociedade de postos de trabalho em declínio. Nisso, aparece outra crença do liberal: a economia pode crescer e abarcar a todos. Para crescer, a economia precisa de recursos e consumo, recursos esse que ela mesmo já está extinguindo no meio ambiente e que tenderá a piorar com as mudanças climáticas que ela mesma também está conduzindo. Estoques pesqueiros sendo eliminados, terras agrícolas sendo exauridas, florestas tropicais em declínio e os oceanos sendo acidificados e esquentando (ambos cruciais para a regulação climática) e por aí afora. Escreveria um livro sobre isso, mas já existem muitos e é só preciso ler. Eis aqui um problema dos liberais: eles não leem sobre os problemas sociais e ambientais. Eles ignoram que a Economia é apenas uma subdisciplina da Ecologia. Eles vivem numa bolha da crença de que o dinheiro pode resolver qualquer coisa, o que na verdade só tente a piorar (quer exemplo mais clássico do que os EUA?). O liberal é extremamente materialista e enquanto pode comprar, tudo está bem. Quando o poder de compra cai, ele veste a camisa canarinho e vai para a Paulista protestar contra a esquerda, culpada da crise econômica (mas que sempre existiu e muito maior nos países liberais também – alguém vai negar isso?).



Ambos os lados, direita e esquerda, vivem numa bolha de ingenuidades e alimentam essas com suas crenças e falta de raciocínio crítico. Na verdade, e aqui é ponto central desse texto, é justamente essa falta de raciocínio lógico que limita o ser humano de atingir seu potencial máximo. O ser humano nasce desprovido da sabedoria, mas com o potencial de a obter. Contudo, basicamente por motivos sociais, ele não a desenvolve. Ele se contenta com o que aprende do meio, mas não processa logicamente aquilo que aprende. Ele apenas capta e se adapta a um meio, limitando todo o potencial de ir além daquele ponto como indivíduo e logo como ser social. Fogem à essa regra aqueles que pensaram, que escreveram livros e teorias, mesmo que equivocadamente, mas eles fugiram e pensaram. Contudo, o que vejo é um mar de pessoas apenas copiando e colando postagens desprovidas de pensamento original ou se atendo ao que foi escrito em outros tempos sem questionar o poder da autoridade erudita. Hoje, o modo de pensar da espécie humana, antes invisível, ficou explícito com o Facebook, que como disse antes, se limita ao aprender do meio sem pensar sobre: clico compartilhar, logo pensei.


A solução para o ser humano está em abandonar seus dogmas e ideologias, parar, sentar, respirar, refletir, olhar para os dois lados, entender o outro para então chegar num terceiro lado (e entender a multidimensionalidade da própria existência num universo multidimensional). O ser humano não vive uma crise – pelo simples fato de que crises acontecem de um momento para o outro num estado prévio de bonança. O problema do ser humano é uma de suas muitas naturezas: a sua própria ignorância. A pessoa que acha que está certa para acusar o outro deveria ter a capacidade de onisciência e nenhum ser humano até o momento a desenvolveu. Logo, seria sensato parar e considerar o que o outro está falando, balancear o próprio olhar e, nisso, quem sabe chegarem juntos a uma nova conclusão sobre o problema. Vejam que isso requer cooperação, união sem bandeiras hasteadas, pois a construção de uma sociedade justa requer cooperação e não luta de classes como prega a esquerda socialista/comunista e nem “que vença o mais capaz” como prega a direita neoliberal. O ser humano só será melhor quando não mais existirem bandeiras de futebol, de países, de partidos, pois isso significará o reconhecimento do ego em cada um, ego esse que simboliza a ignorância. Como a escala é enorme (sem bandeira de países?), poder-se-ia começar numa escala menor como a de partidos, isso porque esquerda e direita nunca poderão se sentar à mesma mesa, uma vez que ainda estarão imbuídas de seus ideais e crenças. Somente poderão se sentar à mesma mesa pessoas iguais e com os mesmos interesses. Será somente assim que o ser humano dará um passo em sua existência nesse universo infinito, esquecido de ser contemplado pela pessoa presa às teorias sociais e ao dinheiro. Sem isso, que nos acostumemos e convivamos com nossas próprias atrocidades em seus diferentes níveis um com o outro.



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