terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O perigo de ideias impensadas: o caso de Ayn Rand e os rumos da economia


Uma ideia, seja ela boa ou ruim, pode mudar o mundo se alguém se beneficiar economicamente dela. Mas nesse caso, o que é bom ou ruim? Qual a definição de bom ou ruim? No caso em particular que irei apresentar, o ruim se tornou bom para um pequeno grupo de ricaços americanos e que acabou ditando muito das regras do capitalismo. Contudo, dentro de minha visão holística e altruísta de bom e ruim, bom é quando todos se beneficiam e os efeitos colaterais são mínimos ou inexistentes. Ruim é simplesmente o contrário disso.

O caso me surgiu hoje ao assistir um documentário constituído de vários episódios que é apresentado na TV Futura intitulado “Por que pobreza” (Why poverty). Nesse, em particular (veja aqui), o tema central foram os executivos ricos que vivem na Park Avenue em New York e políticos (também ricos) que defendem o liberalismo econômico e o corte de impostos para os ricos e diminuição nos programas sociais para os pobres (como se os EUA tivessem muitos). O que impressionou de fato foi que, para os políticos determinados a diminuir ainda mais os impostos dos ricos, as ideias vem de uma escritora e também dita “filósofa” chamada Ayn Rand que, dentre suas obras, escreveu Atlas Shrugged (no Brasil, A Revolta de Atlas). Nesse livro a escritora deixa clara a ideia implícita e explícita que pode ser entendida nessa frase de sua autoria: “Não se sacrifique por ninguém e muito menos espere que alguém se sacrifique por você.” Nela é evidente o ideal centrado no indivíduo e na competição entre os humanos. No livro, Rand tenta mostrar como que a taxação dos mais ricos culminaria com o desmoronamento da sociedade americana. Assim, esses resolvem criar uma nova sociedade nas montanhas baseadas nos ideiais do liberalismo e do capitalismo e com a ausência de intervenção do governo. A partir dessa história crazy, seus defensores (ricaços e políticos republicanos) tem argüido que os impostos para os ricos devem diminuir (ou serem banidos, coisa que o Bush deu um baita passo) e os programas assistências para os pobres diminuírem consideravelmente. A ideia é implantar um processo de “seleção natural”: ou tu competes para te tornares rico (a) ou tu ficarás na pobreza por tua conta. Que sociedade ela pensou estar criando, afinal? Do meu ponto de vista é o capitalismo que tem levado a decadência e desmoronamento da sociedade mundial. Não consigo ver o contrário.

Assistindo uma entrevista dela (veja aqui) fiquei estupefado com suas afirmações. Sua visão egocêntrica baseada no capitalismo e competição desenfreada entre as pessoas contrastou com as visões pacíficas do Dalai Lama que no mesmo dia postei no facebook. Não resolvi escrever para criticar o ponto de vista dessas pessoas, até porque pouco adiantaria. Tem gente melhor do que eu fazendo isso, o que pode ser visto no documentário Park Avenue da série Why Poverty. O que me levou a escrever sim foi a constatação do poder de uma ideia, seja ela boa ou ruim (de acordo com minha definição de bom ou ruim no início). Fiquei tentando imaginar o que se passou na cabeça da Rand ao bolar tais ideias. Não sei, de vez em quando tenho algumas ideias que parecem ser perfeitas para solucionar um problema e logo corro para escrever. Teve vezes em que me precipitei em publicá-las aqui no blog ou no facebook e depois vi o quão equivocado eu estava. Menos mal que elas não tiveram repercussões maiores e eu percebi a tempo de não passar por mais idiota ainda se tentasse defendê-las. Será que isso aconteceu com a Rand? Será que ela teve essa ideia maluca e foi em frente sem questionar o impacto disso para a sociedade e para o mundo? Ora, a ideia é pesada e deu fortes argumentos para os Republicanos (nisso, o Bush) cortarem impostos dos ricos e benefícios dos pobres. Eles adoraram a ideia porque os beneficiaria, lembrando que a massa republicana americana é formada pelos multimi/bilionários. Não sei. Penso que ela teve a ideia, soltou a coisa e depois teve que defender, já que ganhou tantos adeptos e fama. Será que pesou alguma culpa nela ou ela acreditava piamente naquilo? Como é possível acreditar em algo assim? O que tem de diferente entre a mente de pessoas que pensam no individualismo e naquelas que pensam o coletivo? Apenas interesses particulares? Aonde que entra a razão nisso tudo? Há uma razão, afinal?

Quero estudar mais seu papel na economia mundial e sua vida. Seu “macabronismo” me fascinou. Entender pessoas assim é interessante, porque são as ideias delas que se deve enfrentar quando se quer tornar um mundo mais justo e igualitário. Escreverei mais sobre isso e inclusive complementarei esse texto. Senti que faltou apresentar mais suas ideias e discuti-las. Assim o farei quando o doutorado me permitir.